terça-feira, 11 de março de 2014

Partir ou ficar? Eu ainda tenho escolha.

A propósito do tema da crescente emigração anual, ontem o debate no programa Prós e Contras era: Partir ou Ficar?
Foram 121.000 pessoas a emigrar em 2012, dando uma média de 331 px/dia a sair do nosso país. É um valor significativo.
Se por um lado concordo que as pessoas têm de se mexer, que têm de arregaçar as mangas e ir à procura de oportunidades aqui em Portugal, que têm de inovar, que têm de ser criativas e pro-activas, criar empresas, ter ideias, desenvolver competências, também concordo que nem todos têm as mesmas capacidades e, se o estado soubesse gerir melhor o nosso dinheiro, as oportunidades seriam muito maiores aqui dentro.
Mas não vou acusar ninguém de inércia, nem vou agora fazer grandes acusações ao governo por não saber onde gastar o dinheiro que lhes damos. Até porque o meu limite de conversa sobre política seriam 10 minutos:)
Vi ontem o programa e deitei-me tardíssimo porque realmente não me parece que haja apenas um único ponto de vista certo.
E depois de ter escrito alguns parágrafos sobre o tema, decidi apagar tudo e não maçar ninguém.
Há falta de criação de riqueza no país e, como tal, não há emprego. Há algumas iniciativas privadas, mas não são suficientes. Alguns vão conseguindo criar empresas e ter ideias inovadoras, mas outros por falta de financiamento não conseguem desenvolver nada. Outros ficam a olhar para o céu à espera que o emprego caia, outros desejam não trabalhar e ficar a receber o subsídio, e outros que vivem do salário mínimo e sem possibilidade de melhoria, decidem emigrar.
Há alguns que realmente são bons, com boa formação e grandes competências e arranjam emprego. Há outros que lutam e vão à procura e batem às portas e arranjam emprego. Há outros que não vêm as suas competências valorizadas e vão à procura de melhor no estrangeiro (felizmente lá fora gostam bem dos portugueses).
No meio disto tudo, o estado faz uma péssima gestão do dinheiro. Em vez de melhorar as condições no sistema de saúde com mais enfermeiros e médicos, e aumentar as turmas nas escolas para não vermos salas com 30 alunos, gastam num edifício todo XPTO para a PJ, com cozinhas, salas de estar, de comer, de conversar, etc, e pista de helicóptero...

Conheço a realidade de quem emigrou bem de perto. Vivi longe dos meus pais toda a minha vida. Optaram por que eu ficasse em Portugal por acharem que há sacrifícios que valem a pena. Se fui mais feliz em ficar do que em viver no estrangeiro? Não posso afirmar porque não sei como teria sido a minha outra vida. Se hoje teria mais oportunidades e uma vida melhor? Se calhar sim, mas não há nada que pague este sol. E dou graças por hoje cá estar e ter a minha vida.
Vivo cenas desta música há muitos anos e conheço o olhar de quem parte...



Eu não quero sair deste país. Não tenho a aspiração de viver uma aventura lá fora. De ganhar muito mais lá fora. Eu quero ficar perto da minha familia. A familia que está de regresso (não toda, infelizmente) depois de anos de sacrificio. Quero ver o sol. Quero ver o mar. Quero andar em shoopings e fazer compras à meia-noite se quiser:) Quero ir a uma esplanada no inverno e beber um café. Quero que os meus filhos cresçam perto dos familiares, dos amigos. Quero fazer algo cá dentro e ajudar de alguma forma a melhorar este país.

Tenho muita sorte! Porque posso ter esta escolha. Porque posso optar não ir! Não falta comida nem roupa aos meus filhos. Nem mimo nem amor! No final o que interessa é que sejamos felizes. E somo felizes aqui.
Tenho sorte porque ainda tenho esta escolha.

5 comentários:

  1. É mesmo isso Liliane... como sabes já estive fora, no tempo das vacas gordas... e sei que isso custa... hoje em dia a maior parte dos meus colegas estão a sair por não terem oportunidades aqui... eu nem sequer penso nisso... não que tenha muitas oportunidades cá, mas porque quero lutar por construí-las cá! Faço minhas as palavras que escreveste no teu ultimo paragrafo... :)

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    1. Ana, a tua vida profissional está sempre inconstante, mas tens conseguido sempre a bolsa e manter-te por cá. Esperamos que continues perto de nós:) O país precisa de pessoas como tu. Bj.

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  2. É verdade... A criatividade e inovação podem ajudar, mas nem sempre, se não há bases... Além disso, se todos decidirem ser "criativos", deixa de compensar. Às vezes no estrangeiro há melhores condições, mas nem sempre...
    Há marcas que tentam inovar em Portugal (agora ocorreu-me o exemplo da maçã desidratada, fruut) e têm sucesso (até no estrangeiro), mas outras não... por isso também pode ser um investimento arriscado.
    Ainda bem que ainda tens escolha :)

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  3. Posso dizer-te que eu tive que me vir embora. Estava a estudar Psicologia e era das melhores alunas da minha faculdade, mas não conseguia continuar a pagar a faculdade e eles não me arranjavam bolsa. Desisti e vim-me embora. Entristece-me saber que me esforcei tanto em vão. Agora estou parada, a tentar aprender uma língua nova para poder estudar num país onde o ensino superior é gratuito. Fico feliz por saber que tens escolha, mas entristece-me saber que muita gente não tem.. Adorei ler o que escreveste, beijinhos

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    1. Mariiana, espreitei a tua página e tens fotografias lindíssimas! Tens vários talentos:) É pena que não te tenhas conseguido manter por cá, mas és tão jovem, que acredito que essa experiência vá ser uma mais valia na tua vida e acredito que hás-de voltar e o país irá recompensar-te pelo sacrifício de agora:) Beijinhos.

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