Ontem enquanto esperava na sala de atendimento do hospital para a consulta de rotina das plaquetas, uma senhora com mais de 70 anos sentou-se ao meu lado.
Começou a falar baixinho e eu comecei a ficar desconfortável 1º porque não conseguia perceber metade do que dizia e depois porque nunca sei muito bem o que fazer nestas situações.
A sra. parecia triste e perturbada.
Entretanto percebi que a irmã estava muito doente num outro hospital, que tinha rebentado uma veia na cabeça, mas que não podia ir visitá-la porque o marido não a deixava. Enquanto falava, a sra. ía mexendo no meu cabelo, esticando-o para um lado e para o outro para se esconder do marido sentado mais à frente.
Mostrou-me o telemóvel e disse que não tinha dinheiro no aparelho para ligar à sobrinha e perguntar pela irmã (às escondidas do marido).
Eu, com o meu telemóvel na mão, a tentar enviar um email do trabalho, perguntei se queria utilizar o meu. A sra. ficou contente e lá lhe marquei o número que me pediu.
Falou com a sobrinha, chorou e no final agradeceu-me de coração.
O marido não a deixava ir ver a irmã e não a levava de carro a ir vê-la. A sra. nitidamente não sabia mexer-se de outra forma. Pelos vistos tinha uma filha, viúva muito cedo, que também não tinha a carta de condução e um neto que vivia nos Açores.
É frustrante existirem situações destas, em que o marido ou companheiro impedem a pessoa de fazer algo, neste caso, de ir visitar uma irmã hospitalizada. É frustrante não podermos dizer:"Olha, fuja, dê uma escapadela sem ele ver e vá ter com a sua irmã." Sei lá do que é capaz o marido...
Felizmente consegui ajudar como pude, e ela conseguiu saber notícias da irmã.
No meio do meu pequeno contratempo em ter de estar no hospital, deparei-me com um outro contratempo que nada tem a ver com a saúde e que dá cabo da alegria de qualquer pessoa: a falta de liberdade. Aqui mesmo. Nesta cidade, nesta modernice.
Fogo, que situação mesmo triste... É impressionante aquilo que ainda acontece com uma recorrência inimaginável quando todos o sonhamos extinto... Ainda bem que pudeste ajudar!
ResponderExcluiré mesmo uma situação triste :(
ResponderExcluirUns dias depois de ter lido o que escreveste, lembrei-me de ti... estava na nespresso da boavista a comprar café quando chega uma senhora lavada em lágrimas... a pedir à menina da loja se podia usar o telefone da loja... tinha acabado de fechar o carro com o filho de 20 meses com a chave lá dentro... imagina o desespero... lembrei-me de ti e ofereci logo o meu telemovel.. ligou ao marido... e passado um tempo o marido lá chegou e ficou tudo bem... mas muitas vezes penso quantas pessoas ofereceriam o tlm como tu (ou eu) fizemos... chego à conclusão que não seriam muitas e fico triste com isso... mesmo triste...