quarta-feira, 7 de maio de 2014

Telejornais filtrados

Já vos tinha dito que não gosto de ver telejornais? E quando dou o benefício da dúvida, arrependo-me sempre.
Hoje, à hora do almoço, enquanto comia, lá me deixei ouvir as notícias. Como sempre e cada vez mais, há homicídios, roubos, raptos, mortes... E eu simplesmente não consigo ouvir sem ficar a pensar no assunto. Mas ficar a pensar mesmo e a imaginar tudo! Fico consumida da minha energia. E num instante sinto-me em baixo.
Já não me lembro do que foi hoje, se o rapto de quase 300 crianças na nigéria para escravatura, se o assassinato da advogada de um divórcio (imaginei logo os filhos órfãos), sei lá. Mas dá cabo de mim. E quando mete crianças no meio ainda fica muito pior.
Desde que fui mãe, estou muito mas mesmo muito mais sensível a qualquer notícia relacionada com crianças. Vejo logo a cara dos meus filhos ali e fico triste.
Assim como fico muito mais sensível a qualquer choro de criança, a qualquer criança que passa na rua com frio, com birra, com tudo. E é mesmo do tipo sensível em que mexe com todos os meus sentidos e com todo o meu físico. Fico muitas vezes esgotada. É como se surgisse um vampiro do nada e me sugasse todo o meu sangue, entendem?

Por isso, e porque realmente o tempo fica ocupado com outras coisas nas horas dos telejornais, não os vejo. Sigo as notícias nas respectivas páginas no facebook, faço os filtros que pretendo e, ainda assim, já vejo muita coisa que preferia não ver.

Eu sei que devemos saber o que se passa no mundo, da violência terrível a que alguns são submetidos, das atrocidades que são cometidas gratuitamente, e não fechar os olhos. Mas, efectivamente, não se trata de fechar os olhos ou viver num mundo utópico. Trata-se tão somente de salvaguardar a minha sanidade mental e física. Sei o que existe. Sei que há muita coisa má. Mas não tenho de "vivê-la" todos os dias. Há coisas que não passam nem passarão por mim. Tenho de fazer a minha parte e procurar fazer o melhor que consigo.
Por outro lado, tenho de conseguir desapegar-me destas situações. Desapegar-me de histórias que não são minhas. De crianças que não são minhas. De dores que não são minhas. E isto requer muito muito treino.
Eu falho muitas vezes nesta tentativa de ser "desapegada".

Um comentário:

  1. E se há uma coisa que é triste é haver um desastre e irem logo os "abutres" da imprensa lá cheirar, a ver dinheiro onde há mortos e feridos... e acho sádico até aquela necessidade que as pessoas têm de ver o telejornal minuto a minuto quando há catástrofes grandes, como inundações em grande escala ou acidentes de comboio ou acompanhar o processo lento da morte de uma celebridade... Eu percebo que haja curiosidade, mas é demais...
    E as crianças sofrem por problemas de "adultos", quando não deviam... e por injustiças de "adultos"... ou conflitos de "adultos"... "adultos" que são mais depressa crianças, e que, por o serem, obrigam as próprias crianças a serem adultos...

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